Vou ao psicólogo...da minha empresa?!
"A organização do
trabalho exerce sobre o homem uma acção específica, cujo impacto é o aparelho
psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao
choque entre uma história individual, portadora de projectos, de esperanças e
de desejos e uma organização do trabalho que os ignora." Christophe Dejours
O
psicólogo numa empresa tem tradicionalmente um papel primordial no recrutamento
e selecção, e raras vezes na orientação das suas equipas alinhando-as com objectivos
da organização. Esta visão estereotipada do papel do psicólogo resulta muitas
vezes apenas e só do facto de muitos de nós já termos passado por um processo de
recrutamento e selecção com profissionais de psicologia, mas o papel de um
psicólogo numa organização pode e deve ser mais amplo.
Hoje
em dia as empresas sentem, mais que nunca, a necessidade de desenvolverem e
potencializarem as capacidades de cada um dos colaboradores, melhorando as
relações interpessoais, a comunicação e, claro, a sua adaptabilidade às
condições do ambiente. E a solução mais comum é tentarem recrutar colaboradores
com requisitos e perfis específicos para preenchimento das suas vagas e o
psicólogo, assim como outros profissionais, actuam na avaliação do candidato
mais apto para a vaga oferecida.
É do
senso comum que um bom clima organizacional conduz a bons resultados e à
solidez de uma empresa, sendo frequentes acções de formação que são extremamente
necessárias e que têm um efeito positivo, mas que estão menos focadas na auscultação
dos funcionários e na interpretação das suas respostas. Recentemente, tem
crescido o número de empresas que contratam especialistas exteriores, das mais
diversas áreas para colaboração em projectos ou acções específicas, surgindo
neste contexto, empresas que recorrem por exemplo a especialistas em
desenvolvimento pessoal como os coaches para auto-gerarem mudança. Gerir
pessoas implica fornecer instrumentos para a construção de planos de acção e construir
ferramentas de monitorização para a medição dos impactos desses planos, mas
como podem introduzir um plano de acção com sucesso se continuam a despender a
maioria do seu tempo na auscultação e interpretação das mais variadas questões
trazidas pela sua equipa, muitas vezes de índole pessoal? É aqui que o
psicólogo começa a ganhar um novo papel, como especialista externo no âmbito da
saúde ocupacional e não de recursos humanos.
Lidar
com os desafios no nosso local de trabalho depende da eficiência do processo de
mobilização subjectiva, em que o trabalhador faz uso da sua inteligência e
características da sua personalidade para se contrapor a uma racionalidade
gerada em contexto de trabalho. Esta dinâmica apoia-se num processo de
contribuição-retribuição. Esta contribuição tem esta retribuição que é o
reconhecimento, processo ao qual é atribuída a construção da nossa identidade
social e realização pessoal. Podemos afirmar que o trabalho resulta da
intersecção de três universos, os objectivos da empresa, as relações sociais e
o campo pessoal, e a forma como nos organizamos resulta da negociação simultânea
entre os pares e os diversos níveis hierárquicos.
O
psicólogo é um profissional capaz de apoiar o indivíduo na gestão destes três
universos, contribuindo para melhores níveis de desempenho quer seja físico,
cognitivo ou afectivo. A promoção da saúde e bem-estar do trabalhador é uma prioridade,
principalmente em profissões de desgaste e sujeitas a burnout, que limitam a
capacidade de resposta a novos desafios devido à exposição prolongada ao stress
laboral. Com um investimento que cria valor e de fácil gestão, fica claro que
contratar um psicólogo exterior à organização é claramente uma vantagem e não
uma limitação. Por outro lado, a organização ao colocar ao dispor do
trabalhador estas ferramentas de carácter preventivo, ou que minimizem estes
factores de sofrimento, dá-lhes essa retribuição, esse reconhecimento fundamental
que para a empresa, as necessidades das organizações são tão importantes como as
necessidades dos indivíduos.
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