O incendiário florestal
Portugal sofre nestes dias por
culpa dos incêndios, pelos seus trágicos efeitos, a forma como os prevenimos,
combatemos e como os responsáveis políticos lidam com o assunto. Há que dizer
algo de uma forma clara e objectiva: a piromania é uma perturbação rara e muito
difícil de diagnosticar, não tem uma frequência observável e as motivações
podem ser inúmeras, pelo que a ideia de que as autoridades têm uma lista de
presumíveis incendiários é totalmente falsa, mas têm algumas pessoas
identificadas com antecedentes ou suspeitas, e apoiam-se nos dados que resultaram num perfil amplamente
divulgado na comunicação social após os acontecimentos deste verão em Pedrogão,
onde se podia ler em letras gordas: “Solteiro, desempregado, perturbado e
iletrado.” Assim ficou classificado para o público em geral o perfil do
incendiário florestal, mas será que o retrato do país real e do nosso interior é assim
tão diferente? Será um território onde abunda o emprego, as oportunidades e o
acesso ao ensino? E o ponto que quero focar, o acesso à saúde? Já lá iremos.

Existe algo comum a todas as
pessoas que se vêm envolvidas neste tipo de crime, têm uma predisposição
incontrolável de estar perto do fogo, algumas delas conseguem canaliza-la de
uma forma saudável e positiva, trabalhando em várias áreas onde lidam com este
elemento, algumas delas até fazem parte de corporações de bombeiros, mas há
outras que não o conseguem, que não têm condições para isso e problemas de
saúde mental associados, e como indica o estudo, mais de metade tem problemas
de saúde mental e estavam sob o efeito de álcool. Com o fecho de três hospitais
psiquiátricos, dois deles no centro do país, em Soure e Penacova, a verba que
este corte permitiu poupar poderia e deveria ser canalizada para um
investimento numa rede de cuidados integrados de saúde mental, mas tal não se
verificou, dificultando ainda mais o acesso a cuidados especializados no interior
do país, que tem a única resposta em Coimbra.
Haverá com certeza muitos olhares
e perspectivas e reflexões sobre o que manifestamente correu mal no ordenamento
do território, no combate aos incêndios e a acção dos serviços de protecção
civil, questões que põem a nu muitas debilidades do nosso país e que conduziram
a este trágico desfecho, mas por outro lado perceber que a taxa de reincidência
neste tipo de crime está identificada e é de cerca de 20% torna evidente que há
trabalho a fazer nesta área e não podemos pedir às forças policiais para substituírem
o papel que a saúde tem de ter no acesso aos cuidados integrados de saúde mental
que complementam a reinserção social.
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